Ter o prazer de ir a campo, ou mesmo em uma coleção científica – resultado do trabalho de muitos naturalistas – e perceber a natureza dos espécimes, lendo suas descrições, comparando exemplares… o trabalho não poderia acabar apenas em dar nomes!
O que é sistemática, você pergunta? É como os biólogos reconstroem o padrão de eventos que levaram à distribuição e diversidade da vida.
Existe uma incrível diversidade de formas vivas, tanto existentes como já extintas. Para os biólogos se comunicarem sobre todos esses organismos, deve existir também uma classificação desses organismos em grupos [o trabalho do taxonomista consiste em dar nomes únicos para as espécies, primariamente, para termos a certeza de que estamos falando da mesma coisa, lembra?!]. Idealmente, a classificação deve ter algum significado, e não ser arbitrária – deve ser baseada na história evolutiva da vida, de tal forma que seja possível prever propriedades dos organismos recém-descobertos ou pouco conhecidos.
A classificação [taxonomia], entretanto, é apenas um aspecto de um campo muito mais amplo: a Sistemática Filogenética. Sistemática é uma tentativa de entender as inter-relações evolutivas das coisas vivas, tentando interpretar como a vida se diversificou e mudou ao longo do tempo. Enquanto que classificação [taxonomia] é, primariamente, a criação de nomes para grupos; a sistemática vai além para elucidar novas teorias do mecanismo da evolução.
Sistemática, então, é o estudo dos padrões de relação entre táxons; ou melhor, é nada menos que entender a história de toda a vida [da árvore da vida]. Mas história não é algo que podemos ver. Aconteceu uma vez e deixou apenas pistas dos eventos reais. Nas palavras de Stephen J. Gould:
As grandes mudanças evolutivas requerem tempo demais para sua observação direta, na escala do registro da história humana. Todas as ciências históricas baseiam-se na inferência, e nesse aspecto a evolução não é diferente da geologia, da cosmologia, ou da história dos humanos. Por princípio, não podemos observar processos que aconteceram no passado. Devemos inferi-los dos resultados que ainda nos rodeiam: organismos vivos e fósseis, para a evolução; documentos e artefatos, para a história humana; camadas e topografia, para a geologia.
Os biólogos, em geral, e os sistematas, em particular, usam essas pistas para inferir hipóteses ou modelos da história.
A árvore da vida
Em sua obra magna “Sobre a origem das espécies…”, Charles Darwin incluiu apenas uma ilustração – uma “árvore” demonstrando a ramificação e a extinção ao longo do tempo. Com isso ele cristalizou a ideia de que as espécies compartilham ancestral comum em vários pontos no passado. Ele se referiu à relação genealógica entre todos os seres vivos como “a grande árvore da vida”.
Ao longo do final do século 19 houve muitas tentativas de retratar as relações evolutivas com diagramas de árvore. Estes foram baseados em aparências gerais – semelhanças compartilhadas na forma e estrutura dos organismos.
No entanto, somente em meados do século 20, especialmente através da obra do entomólogo alemão Willi Hennig, na década de 1960, que os métodos analíticos utilizados por cientistas de hoje para estudar as relações filogenéticas começaram a ser desenvolvidos e a moderna pesquisa sobre a árvore da vida começou. Hennig propôs que apenas grupos monofiléticos são naturais, uma vez que eles seriam os únicos que realmente respeitam o conceito evolutivo da ancestralidade comum. Um grupo monofilético é definido como a reunião de todos os descendentes de um ancestral comum, este incluso.
Esta lógica de base e os avanços extraordinários na ciência da computação e biologia molecular prepararam o caminho para a reconstrução de toda a árvore da vida. Devido a um aumento exponencial na pesquisa filogenética em todo o mundo, podemos agora entender o padrão de ramificação da árvore inteira. Esse mega esforço revolucionou a nossa compreensão de nosso lugar na natureza, e o conhecimento resultante já foi colocado em uma incrível variedade de usos e práticas científicos.
Link sugerido: The tree of life web project
Abílio Ohana
/ 30/09/2013Legal, Leo! Texto acessível. Parabéns! Abraço.
Rafael Sobral Marcondes
/ 02/04/2014Já morreu o blog, Léo? Que pena!
miralaba
/ 03/04/2014morreu não, pô! temporariamente parado por força maior [leia-se, ultimo ano do doutorado!!!]
muita coisa p fazer, ler, escrever… ainda passo por aqui, tenho ideias p textos, mas n consigo parar p escrever aqui – pelo menos por enquanto
agradeço a lembrança, meu amigo!!! assim q tiver de volta a atividade vc será o primeiro a ser notificado
Rafael Sobral Marcondes
/ 03/04/2014Entendi… Eu curtia seus textos, fico aguardando ansiosamente a volta deles… pra fazer comentários provocativos hehehe! Força e sucesso aí com o doc! Grande abraço!!